02 abril 2006

Pequenas histórias, para quem gosta de bilhar...

Estamos nos anos 60 em Pampanga, uma cidade perto de Manila, nas Filipinas. Como no resto do país, não faltam salões de jogos, com mesas de bilhar. Num desses salões há um miúdo de 8 anos que vê deliciado o tio, dono do salão no qual ele trabalhava, a receber dinheiro de alguém com quem tinha acabado de jogar. Esta imagem seduziu-o, e seduziu-o de tal maneira que a partir de então fez tudo para aprender aquele jogo maravilhoso. Com a ajuda de uma grade de bebidas, empoleirava-se sobre a mesa a imitar o que os outros jogadores faziam. Sozinho, fez isto durante algum tempo. Era frequente o tio, ao abrir o salão de manha, encontra-lo a dormir sobre uma mesa. O miúdo aprendeu o jogo. E aprendeu tão bem que aos dez anos já jogava a dinheiro. E ganhava.

Aos vinte anos já era para muitos o melhor jogador das Filipinas. No entanto o seu objectivo primeiro era o dinheiro. Era pobre num país de terceiro mundo. Andou durante alguns anos pelos salões a jogar a dinheiro, a vigarizar: “hustling”. Tornou-se entretanto conhecido e já ninguém o desafiava. Deixou o pool. Dedicou-se ao bilhar livre, o de “três tabelas”. Passado pouco tempo ganhava também a toda a gente e não havia salão em Manila e arredores onde não o conhecessem.


Estamos em 1985 e o miúdo faz trinta anos. Sendo ele ja uma cara demasiado conhecida nas Filipinas, alguém lhe propôs participar num torneio de pool nos Estados Unidos em Houston, no Texas. Inscreveu-se com um nome falso visto o seu nome já ser falado por alguns nos E.U.A.

O Red’s 9 Ball Open de Houston tornou-se então famoso porque mostrou ao mundo Efren “Bata” Reyes. Aquele que viria a dominar este desporto nas duas décadas seguintes.

O impacto causado por Reyes nesse torneio não se deveu à vitória categórica sobre jogadores de craveira internacional, mas sim como a conseguiu. Efren espantou tudo e todos com algumas tacadas de elevadíssimo grau de dificuldade: tacadas de salto (ou “cavalo”) com jogo de posição, ou seja, a colocarem a bola branca; tabelas “secas” de extraordinária precisão donde ou metia a bola pretendida ou fazia uma jogada defensiva que exasperava os adversários. Convêm notar também que Reyes tinha aprendido havia pouco tempo o jogo da Bola 9 e não sabia todas as regras (!). Deu verdadeiras "abadas" (11-2; 11-3) a jogadores de top. Tudo isto com um taco de dez dolares...

Efren Reyes, apelidado de “O Mágico” fez a sua caminhada até ao topo. Ganhou vários e prestigiados títulos ao longo dos anos. Foi campeão mundial de Bola 9 e Bola 8.

Hoje, aos 52 anos é ainda um dos melhores. E os seus melhores anos como jogador foram gastos nos salões de Manila.

Actualmente gosta de passar tempo no bar com os amigos. É desafiado pelos colegas e por turistas, que querem jogar com uma lenda viva nas Filipinas. A tudo, Reyes responde com a sua humildade e eterno sorriso.

“Bata” significa jovem, miúdo…

1 comentário:

MP disse...

Muito bom Nuno! Se conseguires mais artigos semelhantes força! O pessoal fica agradecido! :-) É bastante interessante para quem tanto gosta deste desporto como alguns de nós, valorizar os conhecimentos e ficar a saber de algumas curiosidades.